Maurilio Palhares ficou internado 41 dias

Redação com Banda B
O médico ginecologista Maurílio Palhares, de 36 anos, que teve o cérebro perfurado por uma estaca de ferro na Ilha do Mel, no dia 1º de janeiro deste ano, declarou que ouvia muita coisa, mesmo enquanto estava sedado.

Segundo Maurílio, que saiu da UTI e que, há duas semanas, está em um Centro de Reabilitação, tudo que aconteceu transformou a visão dele sobre a vida e a profissão que escolheu. “Como médico, é uma experiência que vai enriquecer a minha mente. Você ter uma vivência real, de estar do outro lado e se sentir paciente, me fez valorizar ainda mais a equipe de profissionais da saúde, o auxiliar de enfermagem, o enfermeiro, o fonoaudiólogo. Agora eu estou enxergando a vida com outros olhos”, disse ele em entrevista à Banda B.

No dia 1º de janeiro, o ginecologista caminhava pela praia quando tropeçou na estaca metálica que prendia uma tenda. Na queda, ele teve o crânio perfurado pela parte pontuda do objeto, que ficou para cima na areia. Após o incidente, ele foi socorrido de helicóptero até o Hospital Regional de Paranaguá. Mais tarde, Maurílio Palhares foi transferido para o Hospital Vita, em Curitiba.

LEMBRANÇAS
O médico afirmou que permaneceu consciente durante todo o atendimento, até pedir para ser sedado na aeronave. “Depois, no hospital, enquanto eu estava sedado na UTI, teoricamente em coma, eu comecei a perceber o que estava acontecendo ao meu redor. Lembro de um primo que me visitou e falou bem alto perto de mim e eu consegui ouvir. Em outra ocasião, escutei o meu irmão, que é ortopedista e tem uma boa visão de trauma, dizendo que eu ficaria bem. Isso me deu muita esperança”, comentou.

Mas não foram apenas coisas boas que ele ouviu enquanto estava em sedação pesada. Como entende dos termos médicos, ficou assustado com uma conversa da equipe médica perto da maca dele. “Eu lembro que entrei em pânico um dia em que escutei que eu poderia ter que passar por uma traqueostomia [abertura de um orifício na traqueia para a passagem de ar] e uma gastrostomia [cirurgia que faz uma abertura no estômago para a introdução de alimentos]. São coisas que eu não acreditaria se me contassem. Felizmente, nenhum desses procedimentos foi necessário”.

Ginecologista está num Centro de Reabilitação

RECUPERAÇÃO
Aos poucos, Palhares ganhou consciência e surpreendeu os médicos: ele saiu andando do hospital ‘como se nada tivesse acontecido’ e sem nenhuma sequela – mesmo com uma perfuração de 10 a 15 centímetros no crânio. Agora, ele está focado na recuperação, com sessões de fisioterapia e consultas com uma fonoaudióloga.

O médico não vê a hora, no entanto, de voltar a trabalhar. A expectativa é de que ele já retorne aos atendimentos no fim de março ou começo de abril. Enquanto isso, o ginecologista aproveita para refletir sobre todos os ensinamentos que a experiência lhe proporcionou.

“Eu sempre fui de meditar e isso traz muita tolerância, uma visão diferente em relação às perdas. A dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional. Escolhi viver um aprendizado diante de tudo isso. Com certeza eu serei um médico e uma pessoa melhor a partir de agora. Passei a valorizar mais as pequenas coisas da vida e entender aquilo que realmente faz a diferença. As minhas crenças me ajudaram… É um milagre, não tem outra explicação para o que aconteceu”, finalizou.