A “Operação Duplo Risco”, deflagrada pela Polícia Federal no dia 20 deste mês, desmantelou três grupos criminosos especializados no tráfico internacional de cocaína e também mostrou como é feita a lavagem do dinheiro proveniente deste crime.

Foram cumpridos 80 mandados de busca e apreensão e de prisão nos estados do Paraná, Santa Catarina e São Paulo e também na Europa. Mais de R$ 6 milhões de reais foram apreendidos, somando o total de drogas, armas, medicamentos, animais exóticos e carros de luxo.

Os mandados de busca e apreensão foram realizados nas cidades de Curitiba, Contenda, Fazenda Rio Grande, Almirante Tamandaré; São José dos Pinhais, Pontal do Paraná, Matinhos (no Paraná); São José, Balneário Camburiú, Joinville e Itapema (Santa Catarina); em São Paulo e no Rio de Janeiro.

A investigação durou quatro anos. Além das diligências de campo, pesquisas em bancos de dados e análise de dados financeiros e bancários, contou com a análise de aproximadamente dois milhões de megabytes, entre arquivos de nuvens de contas de internet, e-mails, e extração de dados de telefones celulares.

O ESQUEMA
Três quadrilhas enviavam cocaína para o exterior, preferencialmente para países da Europa, utilizando-se de pessoas aliciadas para essa finalidade, conhecidas popularmente como “mulas”.

Uma das organizações criminosas, chefiada por André Marcelo Silva, era especializada em usar os aliciados para transportar cocaína para a Europa e, no voo de retorno, trazer MDMA (metilenodioximetanfetamina) de fornecedores europeus para o Brasil.

Essas pessoas corriam um risco duplo de serem presas – tanto na ida como na volta. Por isso, a Polícia Federal utilizou esse duplo risco para denominar a operação desencadeada no dia 20 de setembro.O ALICIAMENTO
As pessoas escolhidas para transportar cocaína para o exterior eram cooptadas em sua maioria no município de Curitiba e cidades da Região Metropolitana da capital paranaense. Os aliciados eram geralmente jovens, de aparência semelhante a europeus e bem cuidados. Muitos se conheciam pouco antes das viagens, e simulavam casais de namorados ou amigos de alta classe social em viagem a passeio.

Além desses, os aliciadores também contratavam famílias em dificuldades financeiras, inclusive com crianças pequenas, sob a promessa de que seria muito difícil que fossem presos, bem como pagamento de grandes quantias em dinheiro. Segundo a PF, a maioria das pessoas aliciadas são de bairros pobres, não apenas de Curitiba e RMC como também de outros municípios paranaenses.

Essa prática de levar e trazer drogas foi adotada pela quadrilha chefiada por André Marcelo Silva, que financiou inúmeras viagens de mulas para o exterior. Ele foi julgado à revelia, em 2017, e condenado a 8 anos e 9 meses de reclusão mais o pagamento de 875 dias-multa por tráfico internacional de drogas, porém continua foragido.LAVAGEM DE DINHEIRO
A investigação da Polícia Federal descobriu também que os chefes das outras duas organizações criminosas (Diego Arantes Ferreira de Arazão e Douglas Mendes; e Juarez Machado Neto e Rafael Angelo Teixeira), assim como André Marcelo, utilizavam laranjas para esconder o seu patrimônio, inclusive familiares próximos, advogados, contadores e outros profissionais liberais.

Essas pessoas tentavam lavar o dinheiro do tráfico de drogas comprando imóveis, carros de luxo e outros bens. Os chefões do tráfico usavam esses laranjas também para abrir empresas de fachada, como barbearias, salões de beleza, hamburguerias entre outras e as colocavam em nome de terceiros. A investigação da PF revelou ainda que os narcotraficantes investiam em criptomoedas.

NOTÍCIA RELACIONADA

PF deflagra Operação Duplo Risco para desarticular organizações criminosas