Quatro meninos de Paranaguá viram o sonho de ser jogador de futebol transformar-se em um caso de polícia. Eles estariam em cárcere privado na cidade de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, por um homem que prometia treiná-los para jogar em clubes de futebol do Rio de Janeiro.
Uma operação da Polícia Civil do Rio, na terça-feira (8), libertou os garotos, que estavam com mais nove meninos de diferentes estados – como Alagoas, Amazonas e Paraíba – em um local que, segundo a Polícia, não possuía estrutura profissional e não tinha autorização de nenhum órgão público para funcionar.
Os adolescentes parnanguaras, dois de 15 e dois de 14 anos, segundo os familiares de um deles, teriam passado por maus momentos desde que pisaram em Duque de Caxias.
Os jovens teriam ficado presos em um sítio e eram proibidos de ter contato com qualquer pessoa de fora. O espaço também era pouco iluminado e pouco ventilado.
A TV Globo Rio fez uma reportagem sobre a operação da Polícia Civil no local.
PRISÃO APÓS DENÚNCIA
Jorge Valnei dos Santos era o responsável pelo local e foi preso em flagrante na operação da Polícia Civil, que chegou ao local após denúncia dos familiares.
Os pais dos menores pagavam uma mensalidade de R$ 450 a Santos, achando que os filhos teriam uma preparação para jogar futebol no Rio de Janeiro.
“Se acontecesse alguma coisa aqui dentro, eles não teriam para onde correr. Então, eles eram mantidos aqui, sim, em cárcere”, afirmou o delegado Roberto Nunes, que chefiou a operação policial.
“Eles não têm autorização de órgão público nenhum. Não tem médico, não tem fisioterapeuta, não tem nada que justifique manter os menores nas circunstâncias que eles se encontram aqui”, disse o delegado.
CHANCE REAL
O Fluminense, que tem um centro de treinamento em Xerém, afirmou que vai abrigar os 13 jovens e, depois de uma testagem para Covid-19, vai colocá-los para treinar e fazer testes no clube ainda no mês de janeiro.
FAMILIARES QUEREM JUSTIÇA
Familiares de um dos menores entraram em contato com o Agora Litoral com a intenção de tentar saber mais a fundo se alguém de Paranaguá não conhecia a realidade do local aonde eles ficariam no Rio de Janeiro.
Procurado pela reportagem, Márcio de Morais Cunha, presidente da Associação Fênix de Esportes, esclareceu que, em momento algum, foi responsável pelo encaminhamento dos adolescentes para o centro de treinamento.
“Apenas forneci informações de onde era o local, valores e essas coisas. Não recebi nada, não encaminhei ninguém, com exceção do meu filho, de 14 anos, que está lá em Duque de Caxias para tentar realizar o seu sonho de jogar futebol”, afirmou.
Márcio Cunha salientou que o filho dele nunca reclamou do local ou da alimentação que era fornecida. “Fiquei surpreso com as acusações que fizeram, e não acredito que sejam verdadeiras, senão meu filho teria me falado algo”, disse.
Para ele, talvez alguns dos meninos tenha estranhado o fato de estar longe de casa ou ter que fazer algumas tarefas domésticas. “Eles sabiam que não iriam para um spa; que o treinamento seria duro, mas isso está longe de ser cárcere privado”, destacou.
O presidente da Associação Fênix – que treina atualmente 85 atletas nas categorias 13, 15 e 17 anos – diz ter ficado chocado com as denúncias que levaram à ação da Polícia Civil, principalmente pelo profissionalismo do responsável pelos treinamentos.
Ainda segundo Márcio Cunha, outros pais de meninos que estão sendo preparados no local estão se mobilizando para esclarecer toda situação junto à Polícia Civil. “Deve ter havido um mal-entendido e um certo exagero nas denúncias”, finalizou.